Aplicação da ciência exata para traçar cenários da pandemia dita decisões importantes contra o novo coronavírus.
Em meio à correria das autoridades para dar conta de uma pandemia até agora incontrolável como a da Covid-19 no Brasil, restam muitas dúvidas: até onde vai a curva de contaminados? Como ter noção do volume de equipamentos de proteção necessários aos profissionais que atuam na linha de frente? Quais regiões deverão ter mais casos daqui para a frente?
Diante de tudo isso, uma coisa é certa: a matemática, ciência que relaciona o cotidiano à lógica numérica, tem sido cada vez mais importante na busca de saídas para uma crise sem precedentes. A aplicação dessa ciência para traçar cenários da pandemia dita decisões importantes do governo federal.
Os ministérios de Infraestrutura e da Saúde, por exemplo, acionaram uma empresa que usa a matemática na solução de desafios logísticos para saber quantas máscaras cirúrgicas e outros equipamentos, como aventais e óculos de proteção, deveriam ser comprados para que não faltassem nos hospitais públicos.
Para isso, a empresa paulistana Paragon utilizou um algoritmo, que cruzou números sobre o avanço da pandemia no país e os casos esperados para os próximos meses com dados hospitalares, como o consumo de equipamentos de proteção e a frequência do abastecimento de estoque de mais de dois mil hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O software gerou milhares de tabelas e gráficos com cenários diferentes. Em alguns, os hospitais receberiam produtos numa frequência mensal. Em outros, seria uma questão de horas. Em algumas situações, haveria risco de faltar produto. Em outros, de desperdício. Analisando cada tabela, os técnicos da empresa descobriram, por exemplo, que cerca de 200 milhões de máscaras seriam suficientes para o consumo em 60 dias.
— Para não faltar estoque, o ideal seria os hospitais serem reabastecidos em até dois dias – diz Luiz Augusto Franzese, fundador da empresa.
Para o Ministério da Infraestrutura, as informações “têm sido valiosas para o planejamento da logística necessária ao enfrentamento da Covid-19”, a exemplo do fretamento de voos para China com o objetivo de buscar máscaras. O primeiro voo, de uma série de 43 previstos, chegou ao Brasil em 6 de maio.
Este artigo foi publicado originalmente em https://oglobo.globo.com/sociedade/matematica-ajuda-governos-hospitais-nas-estrategias-contra-covid-19-24454387.