Simulador matemático otimiza recursos públicos

Doação de ferramentas tecnológicas ajuda a traçar estratégias

Franzese, CEO da Paragon: programa para evitar colapso em cemitérios — Foto: Divulgação Valor Econômico Empresas
Franzese, CEO da Paragon: programa para evitar colapso em cemitérios — Foto: Divulgação Valor Econômico Empresas

A mesma tecnologia que permitiu, em 2012, cortar pela metade o tempo de conclusão das obras do novo pátio de aviões do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, reduzir as filas nas agências do banco Itaú e dar mais eficiência à cadeia de suprimentos da Tivit, prestadora de serviços de TI, foi empregada pelo Ministério da Infraestrutura (Minfra) e pela Prefeitura de São Paulo em ações relacionadas ao combate e aos efeitos da pandemia do novo coronavírus.

Com base em softwares consagrados no mercado e de larga utilização em projetos de engenharia de processos, a empresa paulista, Paragon Decision Science, desenvolveu e doou para os órgãos governamentais simuladores que trabalham com cálculos matemáticos. Os programas permitiram estabelecer a logística de transporte de equipamentos de proteção individual, importados da China, construir um hospital de campanha em Goiás e a eliminar os gargalos na operação dos cemitérios na capital e São Paulo, além de dimensionar a quantidade de leitos de UTI em todo o Estado.

Criada em 1992, pelo engenheiro Luiz Augusto Franzese, atual CEO, a Paragon, que conta com 25 funcionários, tem em sua lista de clientes Ford, Fiat, Ipê, Braskem, Colgate-Palmolive. Mas foi por meio do contato com oficiais do Exército que coordenavam o projeto do Aeroporto de Guarulhos, para a Copa de 2014, que o executivo foi convidado a colaborar com as ações do Minfra no combate ao novo coronavírus e, posteriormente, a atuar com o comitê de crise do governo paulista. O coordenador do projeto do aeroporto, Marcello da Costa Vieira, é o atual secretário nacional de transportes terrestres do ministério.

“Usamos a nossa experiência em processos para criar uma ferramenta que pudesse ser rodada na web, uma espécie de vídeogame logístico, para ser usada pelas equipes dos governos”, diz Franzese. A versão final do simulador doado ao Minfra ficou pronta em maio. Mas antes disso, em abril, foram rodados vários cenários para calcular a quantidade de equipamentos necessários para proteger as equipes de 1.900 hospitais no país. Dos 42 voos contratados, 29 já trouxeram 185 milhões de máscaras, de um total de 240 milhões, e 900 toneladas de carga.

Para realizar esse trabalho, a Paragon contou com dados fornecidos pela Associação de Medicina Intensiva, pelo Ministério da Saúde e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Alguns números impressionam: para cada leito de UTI, por exemplo, são necessários 96 aventais descartáveis por dia. O simulador estabeleceu também que do Aeroporto de Guarulhos serão abastecidos 47 centros de distribuição em todo país.

“Tivemos que atuar em duas frentes simultaneamente”, diz o secretário Costa Vieira. Na primeira delas, o objetivo foi estabelecer condições para que o transporte rodoviário não ficasse paralisado e assim garantir o abastecimento de todos os tipos de produtos para a população. “A segunda frente, na qual a Paragon nos ajudou, foi a da saúde. Era preciso trazer insumos e planejar a distribuição num cenário de quase paralisação do transporte aéreo”, conta. Segundo ele, todo o know-how do programa desenvolvido foi repassado ao Ministério da Saúde.

Para Franzese, o trabalho mais difícil do ponto de vista pessoal foi o de lidar com o fluxo de pessoas mortas em São Paulo. “É uma situação muito marcante”, diz. A capital foi a primeira cidade do Estado a ser estudada. O modelo foi replicado para os municípios de Sorocaba, Campinas, Osasco e Santos. “O objetivo era evitar o que aconteceu em Manaus (AM) e em Quito no Equador, locais onde o sistema funerário entrou em colapso”, afirma. Com a simulação de cenários, a prefeitura decidiu ampliar para 24 horas o funcionamento dos cemitérios e também aumentar o número de viaturas para transporte dos corpos.

O trabalho seguinte foi feito a pedido do Comando Conjunto do Sudeste, que trabalha com o governo paulista na logística de transporte de pacientes e de insumos. O simulador desenvolvido pela Paragon calcula o número de leitos de UTI e de enfermarias necessários conforme diferentes níveis de contaminação. “Fizemos uma projeção para 70 dias, a partir de maio, com todos os cenários possíveis”, diz.

Este artigo foi publicado originalmente em
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/07/09/simulador-matematico-otimiza-recursos-publicos.ghtml

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